Mulheres morrem mais por hipertensão associada ao álcool, aponta estudo

Levantamento feito nos EUA revela que elas representam mais de 60% dos óbitos ocasionados pelo consumo abusivo de bebida alcoólica

Publiciado em 08/08/2025 as 08:29

Há cada vez mais evidências de que não existe nível de álcool seguro para a saúde. E, no caso de pessoas convivem com a hipertensão — doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias —, o hábito de consumir bebidas alcoólicas pode ser ainda mais perigoso, principalmente quando de maneira excessiva.

É o que revela uma pesquisa publicada em julho no American Journal of Preventive Medicine. O trabalho analisou a mortalidade por hipertensão atribuível ao consumo excessivo de álcool nos Estados Unidos, com foco nas diferenças entre os sexos. Os resultados indicam um aumento significativo nas mortes por hipertensão relacionadas ao álcool, especialmente entre as mulheres.

Os números apontam um crescimento médio anual de 41,5% nas mortes por hipertensão nos EUA entre 2016-2017 e 2020-2021, passando de 86.396 para 122.234 óbitos por ano. Contudo, o que mais chama a atenção na pesquisa é o salto de mortes anuais por hipertensão atribuíveis ao álcool: foram de 13.941 no primeiro período analisado para 21.137, uma alta de 51,6%.

Outra conclusão importante do estudo é que mais de 60% das mortes por hipertensão relacionadas ao consumo excessivo de álcool ocorreram entre mulheres. E, nos períodos analisados, esse tipo de mortalidade cresceu mais entre elas.

Para o cardiologista Israel Guilharde, do Hospital Municipal Iris Rezende Machado – Aparecida de Goiânia (HMAP), unidade pública em Goiás administrada pelo Einstein Hospital Israelita, os dados demonstram que a hipertensão ainda é um desafio e que a relação entre saúde e bebida alcoólica precisa ser repensada. “Se a ingestão de álcool é um fator que podemos controlar, por que não abraçar essa chance de transformar esses números? Mais do que causar temor, essa informação deve nos obrigar a fazer escolhas que nos levem a um futuro mais saudável”, avalia o médico.

Os prejuízos causados pelo consumo exagerado de bebida alcoólica a indivíduos hipertensos são diversos. Uma das razões é que o álcool, quando consumido em excesso, pode "acelerar" o sistema nervoso, o que leva o coração bater mais rápido e, consequentemente, provoca a contração dos vasos sanguíneos, elevando a pressão arterial.

Outro fator é que a bebida alcoólica pode afetar diretamente os vasos, tornando-os menos flexíveis, o que dificulta o fluxo do sangue. “E para quem já está tratando a pressão, é importante saber que o álcool pode interferir na ação dos medicamentos, diminuindo sua eficácia”, informa Guilharde. “Não podemos esquecer também do efeito cumulativo: quem bebe demais com frequência tende a ganhar peso, dormir mal, acumular gordura visceral — todos esses são fatores que pioram a hipertensão.”

Por que as mulheres são mais afetadas?

O achado de que mais mulheres morreram em decorrência do consumo excessivo de álcool pode ser explicado por uma combinação de fatores. “Biologicamente, as mulheres metabolizam o álcool de forma diferente, o que pode levar a uma concentração mais alta no sangue, mesmo com a mesma quantidade de bebida”, explica o cardiologista.

Em termos culturais, houve uma mudança nos padrões de consumo nas últimas décadas — as mulheres passaram a beber mais, hábito antes mais comum entre os homens. “Mas o importante é que, ao reconhecer essas diferenças, podemos oferecer um cuidado mais personalizado e eficaz, considerando a individualidade em sua jornada de saúde”, pontua Israel Guilharde.

Apesar de ter pesquisado a população dos Estados Unidos, o estudo acende um alerta para a situação no Brasil. Em sua sexta edição, a publicação Álcool e a saúde dos brasileiros, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), apontou que, no país, o consumo de bebida alcoólica per capita, medido em litros de álcool puro por pessoa de 15 anos ou mais, reduziu 10,4% entre os anos de 2010 (8,6 litros) e 2019 (7,7 litros), mas continuou acima da média mundial – 5,7 litros em 2010 e 5,5 litros em 2019 –, de acordo com dados da OMS.

As mortes exclusivamente atribuíveis ao álcool são mais comuns entre mulheres pretas: em 2022, foram 3,2 a cada 100 mil habitantes. Entre as brancas e pardas, esse número foi de 1,4 e 2,2 por 100 mil habitantes, respectivamente.

Vida sem álcool

O levantamento do Cisa ainda constatou, em 2022, a incidência de 33 óbitos atribuíveis ao álcool a cada 100 mil habitantes no Brasil, sendo 3% deles relacionados à hipertensão. Especialmente entre as pessoas com 55 anos ou mais, a pressão alta é indicada pela pesquisa como uma das principais causas de mortes atribuíveis à bebida alcoólica, conforme dados do Departamento de Informação e Informática do SUS (DataSUS).

Daí porque pessoas hipertensas precisam de moderação — e a abstinência, muitas vezes, é o melhor caminho para o coração. “Para mulheres, o ideal é não mais que uma dose por dia; para homens, no máximo duas doses”, orienta o cardiologista do HMAP. “Aquelas ‘ocasiões especiais’ com muito álcool podem ser um verdadeiro susto para a pressão, além de causar vários outros problemas, como arritmias que predispõem, por si só, à ocorrência de AVC [acidente vascular cerebral].”

A OMS estabelece que uma dose padrão contém cerca de 10 gramas de álcool puro, o que corresponde, aproximadamente, a uma lata (350 ml) de cerveja comum ou uma taça pequena (150 ml) de vinho. “O ideal é evitar ou diminuir o consumo sempre que possível, especialmente em pacientes com controle pressórico difícil ou com doenças cardiovasculares, como coronariopatia e insuficiência cardíaca”, adverte o cardiologista Elzo Mattar, membro do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Quando se trata da saúde, todo cuidado é pouco.

 

 

Fonte: Agência Einstein

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