Nutrição voltada ao tratamento de transtornos alimentares ainda é pouco explorada

A área ganha espaço no tratamento voltado à saúde mental; nutricionista destaca a importância de compreender o alimento como parte da saúde emocional, e não apenas da estética.

Publiciado em 07/11/2025 as 09:57

Bulimia, anorexia, compulsão alimentar. São os principais transtornos alimentares mais atingem a população em todo o mundo e também no Brasil, através de uma relação distorcida existente entre mente e comida. Estimativas da Universidade de São Paulo (USP) apontam que o Brasil tem cerca de 15 milhões de pessoas com algum tipo de distúrbio alimentar, o que daria uma proporção de 1 a cada 20 pessoas. O enfrentamento destes transtornos e o tratamento das pessoas que os têm abre caminho para novas possibilidades de atuação para profissionais de áreas da saúde, incluindo a nutrição. 

Uma das nutricionistas que lida diretamente com a área é Andressa Ferreira Campos, formada pela primeira turma do curso de Nutrição da Universidade Tiradentes (Unit). Ela se dedicou à área desde a graduação, realizada entre 2009 e 2013, e se especializou na área ao longo dos cinco anos seguintes, com duas pós-graduações realizadas na Universidade de São Paulo (USP). Uma foi o mestrado em Nutrição em Saúde Pública, da Faculdade de Saúde Pública (FSP/USP); enquanto a outra foi uma especialização em Transtornos Alimentares, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (IPq/HCFMUSP), que mantém o Programa de Aprimoramento em Transtornos Alimentares (Ambulim), primeiro do país a se especializar nesse tipo de tratamento. 

Andressa defende a importância destas especialidades, principalmente diante de uma realidade que relaciona cada vez mais os hábitos alimentares com questões relacionadas à mente humana, principalmente a ansiedade e a depressão. “É um cenário que é muito existente, apesar de ser muito velado, muito ofuscado e estereotipado. Hoje a gente vive numa sociedade completamente ansiogênica, pois além da ansiedade tem os processos depressivos. Vejam o quanto a alimentação traz essa regulação e essa importância quando a gente fala do processo do comer. Além disso, estamos imersos numa sociedade completamente impositiva em como você tem que agir, como você tem que ser, como você tem que trazer o seu estereótipo e isso acaba trazendo vinculações no processo emocional, no processo comportamental e também no processo alimentar”, aponta. 

A nutrição especializada no tratamento dos transtornos psiquiátricos alimentares exige do profissional uma abordagem com perfil e direcionamento voltados à saúde mental, além de uma grande responsabilidade. Andressa a define como “complexa” e “desafiadora”, pois lida diretamente com as emoções de cada paciente. “Existe a real necessidade de os profissionais buscarem formação, ter esse olhar mais ampliado do outro, entender que o outro vai muito além do que a gente vê. Ele tem uma história alimentar com medos, com traumas, com emoções associadas, pensamentos e gatilhos associados. É preciso fazer com que as pessoas busquem uma relação de completude e harmonia com a comida, com o corpo, com elas mesmas, de uma forma que elas alcancem um bem-estar de fato e por elas, não para ninguém e nem por ninguém”, exorta.

 

Ampliando conceitos

Na Unit, Andressa atuou em projetos de iniciação científica e tecnológica junto ao Laboratório de Pesquisas em Alimentos (LPA), do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), além de ter sido monitora das disciplinas de Nutrição e Dietética e Estágio em Saúde Pública. Ela tem ainda uma especialização em Nutrição nas Doenças Crônicas Não Transmissíveis, pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEPAE), ligado ao Hospital Israelita Albert Einstein. Esta especialidade é voltada mais para a área clínica e aborda diversos acometimentos em doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardiológicas, oncológicas, hepáticas e outras.

Desde 2018, Andressa como nutricionista clínica, com ênfase em transtornos alimentares vinculados à anorexia, à bulimia, à compulsão alimentar, e a outros problemas, atendendo sob demanda em sua clínica particular, em Aracaju. É uma das poucas profissionais especializadas na área que atuam hoje em Sergipe. Agora, ela pretende colaborar com sua experiência para a formação de novos profissionais no mercado, para que eles tenham uma outra compreensão sobre a nutrição comportamental. Seu objetivo é ainda mais amplo: ampliar o conceito que as pessoas têm sobre o trabalho do nutricionista, que em geral é visto como um “programador de dietas”. 

“Eu não me adequo à maneira reducionista que é estruturada a nutrição. Ela tem outros caminhos, tem outras possibilidades e o importante hoje é socialmente, culturalmente a gente trazer essa ótica para as pessoas, até mesmo para os próprios profissionais de nutrição, que existem outros caminhos. Entender que o profissional de nutrição, ele trabalha com o alimento, a comida, o ato do comer, as memórias do comer, o prazer no comer e a gente precisa, como profissional de saúde, vincular isso, trazer isso para a ótica das pessoas e não reduzir o alimento como proibido ou engordativo ou pode ou não pode. Acho que o grande desafio de hoje é trazer uma nutrição humanizada, que faça sentido para a pessoa, e não vinculada às dietas das modas ou aos modismos ou aos estereótipos instituídos pela sociedade, que acabam trazendo uma dissociação do próprio eu da pessoa”, afirma a nutricionista. 

 

Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit

 
 
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