Terapia cognitivo-comportamental pode alterar a estrutura cerebral, aponta estudo
Abordagem psicológica demonstra resultados comprovados na neuroplasticidade e no tratamento de transtornos mentais

A ideia de que a terapia tem o poder de “modificar a mente” vem ganhando cada vez mais respaldo científico. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é capaz de promover mudanças reais na estrutura e no funcionamento do cérebro, especialmente em áreas ligadas à regulação emocional e ao pensamento racional, como o córtex pré-frontal, o hipocampo e a amígdala.
Após algumas semanas de tratamento, os pacientes apresentam alterações na atividade cerebral e na densidade da matéria cinzenta, reforçando o potencial da psicoterapia de estimular a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de reorganizar-se e criar novas conexões neurais a partir de experiências e aprendizado.
Mente e comportamento
O tratamento psicoterápico não apenas age como ferramenta de autoconhecimento, mas também de transformação biológica e mental. De acordo com a psicóloga e professora Claudia Mara de Oliveira Bezerra, preceptora do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit), a TCC é uma abordagem estruturada e orientada a resultados, capaz de alterar padrões mentais e comportamentais que geram sofrimento.
Segundo Claudia Mara, a Terapia Cognitivo-Comportamental baseia-se na relação entre pensamentos, emoções e comportamentos. “O princípio central da TCC é que nossos pensamentos influenciam diretamente nossas emoções e ações. Quando interpretamos situações de forma negativa ou distorcida, sentimos desconforto emocional e adotamos comportamentos prejudiciais”, explica.
A especialista salienta que o processo terapêutico é ativo e prático, envolvendo a identificação e questionamento de pensamentos automáticos. “Por exemplo, um estudante que se prepara para o ENEM pode acreditar constantemente que vai fracassar. A TCC auxilia a reconhecer esses pensamentos antecipatórios, que geram ansiedade e comportamentos de evitação, como desistir da prova”, exemplifica.
Mudanças reais no cérebro
Os estudos mencionados pelo portal Bons Fluidos mostram que a prática da TCC pode gerar alterações estruturais no cérebro, sobretudo em regiões relacionadas ao controle emocional e à tomada de decisão, como o córtex pré-frontal e o hipocampo. Na prática clínica, isso se traduz em maior equilíbrio emocional, raciocínio mais claro e redução de sintomas de ansiedade e depressão.
Para Claudia Mara, essas transformações ocorrem porque o paciente aprende novas formas de pensar e agir. “A TCC propõe exercícios práticos entre as sessões, como enfrentar situações evitadas ou testar comportamentos diferentes. Ao fazer isso, o cérebro cria novas conexões, fortalecendo circuitos neurais ligados ao bem-estar e à resiliência”, explica.
Resultados que vão além da depressão
Embora a TCC seja amplamente reconhecida por sua eficácia no tratamento da depressão, a psicóloga ressalta que seus benefícios se estendem a outras condições. “A Terapia Cognitivo-Comportamental também é eficaz em casos de ansiedade generalizada, fobias, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtornos alimentares e até transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)”, afirma. Essa versatilidade faz da TCC uma das abordagens mais estudadas e aplicadas no mundo, com forte base científica em diferentes contextos clínicos e faixas etárias.
Tempo e eficácia do tratamento
Claudia Mara observa que os efeitos da TCC podem surgir relativamente rápido. “Em média, os pacientes percebem melhora após cerca de 12 sessões”, comenta. No entanto, a duração depende de fatores como tipo de transtorno, engajamento do paciente e frequência das sessões.
Em alguns casos, a TCC pode ser realizada sem medicamentos, especialmente em quadros leves ou moderados. “Em situações mais graves, a combinação com medicamentos é recomendada. Em casos crônicos ou de risco à vida, o uso de fármacos é essencial, sempre com acompanhamento médico”, explica.
Transformações duradouras e autoconhecimento
As mudanças promovidas pela TCC tendem a ser duradouras, mas requerem prática e continuidade. “Os ganhos se mantêm quando o paciente aplica fora do consultório as técnicas aprendidas, desenvolve autoconhecimento e conta com apoio social e hábitos de vida saudáveis”, pontua Claudia Mara. Ela reforça que o empirismo colaborativo, ou seja, a parceria ativa entre terapeuta e paciente, é crucial para o sucesso do tratamento.
Psicoterapia como cuidado, não fraqueza
A psicóloga destaca que a psicoterapia é indicada para qualquer pessoa que deseje melhorar sua qualidade de vida, não apenas para quem enfrenta transtornos mentais. “Buscar psicoterapia não é sinal de fraqueza, mas de autocuidado. É um espaço seguro, acolhedor e transformador, oferecendo ferramentas para lidar com desafios de forma mais leve e clara”, ressalta.
Com isso, entender que a terapia pode literalmente remodelar o cérebro é reconhecer que o processo psicoterápico vai além do alívio de sintomas. “Identificar pensamentos disfuncionais, questionar crenças antigas e experimentar novos comportamentos é como redesenhar nossa compreensão interna. É sair do sofrimento e avançar rumo à liberdade e à autonomia”, finaliza Claudia Mara.
Por: Laís Marques
Fonte: Asscom Unit