Estados Unidos e Israel se retiram da Unesco
Os Estados Unidos e Israel anunciaram, nesta quinta-feira (12), a sua decisão de retirar-se da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), acusando-a de ser anti-israelense, o que provocou críticas na instituição.
Após vários anos de tensões com esta agência da ONU com sede em Paris e atualmente em processo de eleição de um novo diretor-geral, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert anunciou que Washington prevê deixar a organização.
"Essa decisão não foi tomada rapidamente e reflete a preocupação dos Estados Unidos com os crescentes atrasos nos pagamentos (das contribuições) à Unesco, a necessidade de uma reforma fundamental na organização e o contínuo preconceito contra Israel", disse Nauert.
A saída dos EUA será efetivada em 31 de dezembro de 2018, de acordo com as normas constitutivas da Unesco, completa o texto.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, continuará trabalhando com o governo Trump apesar das diferenças, disse o porta-voz da ONU Farhan Haq nesta quinta-feira.
Guterres "lamenta profundamente" a decisão, mas "ao mesmo tempo, é claro, interagimos com os Estados Unidos de forma muito produtiva em uma série de questões através de uma série de organizações e continuaremos a fazer isso", acrescentou o porta-voz, que pareceu minimizar a saída.
"Há momentos em que pode haver diferenças nessa ou naquela questão, mas o secretário-geral trabalha bem com o governo dos EUA", disse Haq.
Pouco depois de Washington, Israel indicou que também vai abandonar a instituição, que qualificou de "teatro do absurdo, onde se deforma a história, em vez de preservá-la".
"Entramos em uma nova era das Nações Unidas: a que, quando se discriminar Israel, terá que assumir as consequências", afirmou o embaixador israelense na ONU, Danny Danon.
No início de julho, os Estados Unidos haviam advertido que analisavam seus vínculos com a Unesco, chamando de "uma afronta à história" a sua decisão de declarar a antiga cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada, uma "zona protegida" do patrimônio mundial.
Na ocasião, a embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou que esta iniciativa "desacreditava ainda mais uma agência da ONU já altamente discutível".
Multilateralismo
Os Estados Unidos já deixaram a Unesco entre 1984 e 2003 e suspenderam sua contribuição financeira em 2011, após a admissão da Palestina como um Estado-membro.
A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, afirmou nesta quinta "lamentar profundamente" a decisão dos Estados Unidos.
"Lamento profundamente a decisão dos Estados Unidos, cuja notificação oficial foi enviada pelo secretário de Estado Rex Tillerson", escreveu em um comunicado.
"A universalidade é essencial para a missão da Unesco de construir a paz e a segurança internacionais em face do ódio e da violência, através da defesa dos direitos humanos e da dignidade humana", afirmou Bokova.
"É uma perda para a família das Nações Unidas. É uma perda para o multilateralismo", ressaltou a diretora.
Em sua declaração, Bokova lista uma série de medidas adotadas pela Unesco em parceria com os Estados Unidos contra o antissemitismo.
"Juntos, trabalhamos com o falecido Samuel Pisar, embaixador honorário e enviado especial para a educação do Holocausto, a fim de compartilhar a história do Holocausto para lutar contra o antissemitismo e na prevenção dos genocídios, com o Canal Unesco para a educação sobre o genocídio na Universidade da Califórnia e com programas de alfabetização na Universidade da Pensilvânia".
A essas reprovações, somaram-se a França - onde está a sede da Unesco - e o secretário-geral da ONU, António Guterres, que lembrou "o destacado papel dos Estados Unidos na Unesco desde sua fundação", em 1946. Moscou também lamentou "uma triste notícia".
Os anúncios de Estados Unidos e Israel chegam em meio à decisiva eleição do sucessor de Irina Bokova.
Na quarta rodada de votações nesta quinta, os 58 países-membros do conselho executivo só designaram um dos finalistaspara suceder Bokowa: Hamad bin Abdulaziz Al Kawari, do Catar, que recebeu 22 votos.
Na segunda posição, com 18 votos cada, ficaram o candidato egípcio Mushira Khattab e a francesa Audrey Azoulay. Nesta sexta-feira, uma nova votação vai decidir qual dos dois será o outro finalista.
Hebron
Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco inscreveu, em julho, a Cidade Velha de Hebron como um sítio "de valor universal excepcional". Também colocou esta cidade, localizada nos territórios palestinos, na lista de patrimônios em perigo.
Hebron é o lar de 200 mil palestinos e centenas de colonos israelenses, que estão entrincheirados em um enclave protegido por soldados israelenses perto do local sagrado que os judeus chamam de o túmulo dos Patriarcas e os muçulmanos de Mesquita de Ibrahim.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descreveu a decisão da Unesco como "delirante".
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