O que explica o rombo histórico das estatais no governo Lula

Sob a terceira gestão do petista, estatais controladas pela União acumulam déficit recorde de R$ 18 bilhões

Publiciado em 20/10/2025 as 08:18

Escolha de investimentos, aumento de gastos e uso político indevido são alguns dos motivos do déficit recorde das estatais federais na terceira passagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Palácio do Planalto, segundo especialistas ouvidos pelo CNN Money.

Sob o Lula 3, as empresas federais acumularam um déficit primário de R$ 18,5 bilhões — excluindo Petrobras e bancos públicos —, mostram dados do BC (Banco Central). Esse é o maior déficit registrado para o período em toda a série histórica.

O pedido de socorro dos Correios na última semana, incluindo um empréstimo de R$ 20 bilhões e um plano de reestruturação, deu novo fôlego ao debate sobre como as estatais estão sendo geridas, e como esse cenário pode ameaçar as contas públicas.

Para a economista Elena Landau, que atuou como ex-diretora de privatizações do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), os resultados contam com uma raiz mais profunda, que escapa do panorama macroeconômico.

O impacto maior surgiria de uma “filosofia” de que a estatal é um instrumento político, e não uma empresa, pela quantidade de cargos comissionados por indicações internas.

“Os Correios são um caso impressionante. Um estudo de caso, tamanho o descalabro que aconteceu”, opina a economista. “São escolhas da administração, de gastar em propaganda, de gastar em pessoal, de gastar fazendo obras que não lhe dizem respeito.”

Landau descarta questões externas. A opinião, contudo, não é unânime.

Para o economista-chefe da Lev Asset Management, Jason Vieira, há fatores estruturais que auxiliam na queda brusca das contas das empresas públicas, como o aumento de gastos movido pela inflação e custos de insumos e de energia.

Além disso, há a chamada de "inércia regulatória" de algumas estatais, como os Correios, que necessitam constantemente de subsídios do governo.

"São empresas que muitas vezes tem baixa competitividade e depende de uma receita não recorrente. Quando a gente fala agora da questão não estrutural, mais conjuntural, a gente pode falar que tem uma grande gerência política nas suas estatais, que tem uma série de nomeações sem qualificação, especialmente em termos de conselho", acrescenta.

O que pode explicar uma piora nas estatais no 3º governo Lula?

  • Resultados financeiros mais fracos (como Correios e Caixa Econômica)
  • Maior polarização política interna, que também pode dificultar a gestão das empresas
  • Críticas quanto à nomeação de aliados políticos para cargos de gestão 
  • Pressões fiscais com a mudança da âncora fiscal, do Teto para o Arcabouço 
  • Conjuntura econômica global menos favorável (Conflitos internacionais como na Ucrânia e Oriente Médio afetam os preços de energia e alimentos)

Assim como Landau, Vieira defende que as estatais estão carentes de pessoas com capacidade técnica para o setor, e são usadas como instrumentos para sustentação política.

Com isso, também há o que classifica como investimentos agressivos com retorno a longo prazo, como nas áreas de publicidade, ou a aposta geral do governo Lula no PAC (Programa de Aceleração e Crescimento) — que acabam drenando um caixa já deficitário das empresas.

"Falta obviamente buscar o que funciona nessas empresas em termos de desempenho", diz. "Boa parte dessas empresas estão em custo elevado, margem apertada, e precisam muitas vezes recorrer a empréstimos. O Tesouro não está conseguindo cobrir muitas das vezes", afirma.

Vieira acrescenta que parte das estatais operam com custos elevados e margens apertadas, recorrendo muitas vezes a empréstimos, como é o caso dos Correios. Isso sustaria o problema estrutural de financiamento, governança e modelo de negócio, que piora progressivamente na percepção dos especialistas.

Correios não são caso isolado

Os prejuízos dos Correios não são um caso isolado ao exporem uma dificuldade estrutural de algumas estatais em se adaptarem à nova economia digital e IA, diz Alexandre Espirito Santo, economista-Chefe da Way Investimentos.

O especialista acrescenta a existência de problemas de governança, investimentos e gestão para as outras empresas públicas.

"Há fatores macroeconômicos relevantes, mas as decisões administrativas também têm grande peso", afirma Alexandre.

De acordo com dados do MGI (Ministério da Gestão e Inovação) compilados pelo CNN Money, as cinco estatais campeãs de prejuízo ao longo do governo Lula 3 foram, além dos Correios, a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), a Embrapa, a Infraero e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.

 

As 5 estatais campeãs de prejuízo no governo Lula 3

 

Estatal

Prejuízo

 

Correios

R$ - 2,6 bilhões 

 

Companhia Brasileira de Trens Urbanos

R$ - 1,1 bilhão

 

Embrapa

R$ -375 milhões

 

Infraero

R$ -229 milhões

 

Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

R$ -132 milhões

 
 
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